Perdido na Amazônia: 35 anos do voo Varig 254

Perdido na Amazônia: 35 anos do voo Varig 254
Foto: Wikimedia

Era um domingo, 3 de setembro de 1989. Os olhos dos brasileiros estavam acompanhando o jogo das eliminatórias para a Copa de 90 entre Brasil e Chile, que acontecia no Maracanã.

Ao norte do país, no Aeroporto de Marabá, o voo Varig 254 decolava rumo a um curta viagem até Belém (BEL). A bordo do Boeing 737-200 de matrícula PP-VMK estavam 54 ocupantes, sendo seis tripulantes e 48 passageiros. Essa era a última etapa de um longo trajeto desde Guarulhos até a capital paraense com paradas em Uberaba, Uberlândia, Goiânia, Brasília e Imperatriz.

A duração do voo deveria ser inferior a 1h. Após ter atingido, teoricamente, 165 km de distância de BEL, a tripulação tentou estabelecer contato com o Controle de Aproximação (APP) Belém. No entanto, tal comunicação foi conseguida apenas por intermédio de uma outra aeronave, o voo Varig 266 que seguia de Santarém para Brasília.

Na cabine, os pilotos tentavam entender uma situação: as luzes de Belém não estavam logo a frente como deveriam estar, somente mata fechada podia ser avistada. Já atrasado para pousar, a situação ainda não chamava atenção das autoridades. Para os controladores, o voo 254 se aproximava da capital paraense.

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Foto: Arquivo Flap

A situação começou a sair de controle. Por onde estava o Varig 254? Relutando em pedir ajuda, os pilotos finalmente se comunicaram com outras tripulações, por volta das 20h30. Os diálogos duraram cerca de 25 minutos. O combustível do 737 se esgotou, os motores se desligaram. Naquele momento, o som dos motores Pratt & Whitney JT8D foi substituído por um silêncio estarrecedor. A única alternativa era pousar em algum local na floresta Amazônica e foi o que aconteceu. Por volta das 21h, mais de 3 horas após ter partido de Marabá, o Boeing começou a bater as copas das árvores até atingir o solo e parar por completo.

A aeronave caiu bem distante de seu plano original, a cerca de 1.000 km de Belém, em São José do Xingu. Dois dias depois do ocorrido, um grupo de sobreviventes caminhou cerca de 40 quilômetros em busca de socorro até encontrar uma fazenda. As autoridades até então não faziam ideia de onde estavam os destroços do 737-200.

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Foto via livro Caixa Preta de Ivan Sant’Anna

Com o Boeing localizado pela equipe do PARA-SAR, os ocupantes foram resgatados e a investigação foi iniciada.

No plano de voo fornecido pela Varig, estava grafado o rumo 0270, significando 027,0 graus. A companhia havia introduzido planos de voo computadorizados meses antes do acidente. Até então, eram utilizados três dígitos, mas com a introdução, o plano passou a contar com uma casa decimal, ou seja, quatro dígitos ao todo. Isso fez com que o comandante Garcez interpretasse a informação equivocadamente e inserisse 270º ao invés de 27º, fazendo com que a aeronave rumasse a oeste ao invés de norte.

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Foto via livro Caixa Preta de Ivan Sant’Anna

Em resumo, o relatório concluiu que houve erro humano e que a deficiência no plano de voo da companhia contribuiu com a ocorrência. A falta de cobertura radar na região também foi um fator contribuinte. Por fim, a comunicação inadequada entre o comandante e o primeiro oficial e a demora para pedir auxílio, principalmente por parte do comandante que não reconhecia seu erro, também somaram-se aos fatos que culminaram para a tragédia. Dos 54 ocupantes, 12 pessoas morreram e, dos 42 sobreviventes, 17 ficaram gravemente feridos.

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Foto via livro Caixa Preta de Ivan Sant’Anna

O Varig 254 se tornou um dos acidentes aéreos mais conhecidos no Brasil e também na história da aviação e contribuiu, posteriormente, para a implantação do Sistema de Vigilância da Amazônia.

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Uma resposta

  1. Este incidente é, recorrentemente, apresentado em “cases” de gestão de governança corporativa, com ênfase na necessidade de duplos controles em processos críticos de gestão, e como exemplo de necessidade de “compliance” com procedimentos internos: o copiloto checou o lançamento da trajetória feito pelo comandante, para atestar que deveriam ser 27o e não 270o? Já assisti algumas palestras que tiveram o tema como “caso de estudo”.

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