A300: o primogênito da Airbus

A300: o primogênito da Airbus
Foto: Airbus

Hoje nós iremos conhecer mais detalhes do A300, primeira aeronave construída pela Airbus e também o primeiro widebody bimotor da história.

Antecedentes

Na década de 60, a produção de aeronaves na Europa era mais segmentada por países: a França tinha o Caravelle, a Grã-Bretanha produzia os BAC 1-11, Comet e Trident. Juntas, as nações desenvolveram o supersônico Concorde.

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Foto: Arquivo Flap

Em 1967, governantes franceses, britânicos e alemães se reuniram para discutir sobre uma cooperação entre os países no campo de tecnologia aeronáutica, visando também a construção de uma nova aeronave de passageiros para competir com os Estados Unidos, que na época detinha 80% do mercado global. Ainda nesse ano, foi assinado um memorando de entendimento para a criação do A300, que viria a ser o primeiro projeto da fabricante.

Dias depois do encontro, o engenheiro francês Roger Béteille foi nomeado como diretor técnico; Henri Ziegler, diretor da Sud Aviation, passou a ser Gerente Geral e o alemão Franz-Josef Strauss, presidente do projeto do Airbus A300. Eles são conhecidos como “Os Pais da Airbus”.


Desenvolvimento

No início da criação do A300, os “Pais da Airbus” foram criticados e alertados de que a aeronave, por ser um bimotor, não iria “sobreviver” em um mercado onde os trijatos norte-americanos DC-10 e Lockheed Tristar estavam sendo desenvolvidos e competiriam diretamente com o modelo europeu.

Para equipar o A300, Béteille buscava um motor com maior potência e a Rolls Royce já estava desenvolvendo um novo: o RB211. A fabricante de motores prometeu criar uma versão mais potente para equipar o Airbus, que seria o RB207.

Com o passar dos meses, ficou claro que a Rolls Royce estava sobrecarregada com a criação do RB211, que seria utilizado no mercado norte-americano e o desenvolvimento do RB207 foi pausado, deixando assim o A300 sem opções de motor.

A princípio, o A300 havia sido projetado para acomodar 300 passageiros, mas essa versão estava elevando os custos do projeto, principalmente por conta da necessidade de motores mais potentes. Então em 1969, durante a feira aérea Le Bourget, foi oficialmente lançado o A300B, uma variante menor da aeronave, que teria capacidade para 250 passageiros, permitindo a utilização de motores com menor potência, como o RB211 da Rolls Royce e também o CF6 da General Eletric ou o JT9  da Pratt and Whitney. As modificações deixavam o novo Airbus agora ainda mais atrativo e mais econômico do que os seus concorrentes.

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Interior de um A300 da Lufthansa. Foto: Konstantin Von Wedelstaedt

Início da produção, primeiro voo e encomendas

O projeto já tinha sido anunciado para o mundo, mas fundação oficial da Airbus Industrie veio a acontecer em 1970. Nesse ano, o A300 já começava a ganhar forma e os motores para o primogênito da fabricante europeia haviam sido definidos: os CF6-50A da norte-americana General Eletric. As asas eram produzidas no Reino Unido e posteriormente transportadas para a Alemanha, onde eram adicionadas as superfícies de comando. A fabricação do estabilizador vertical acontecia na Espanha, enquanto o ‘nariz’ do Airbus era feito em uma cidade francesa. Tudo era levado até Toulouse, onde a montagem final do jato ocorria.

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Foto: Arquivo Flap

Em setembro de 1970, a Air France assinou uma carta de intenção para adquirir seis A300s, sendo a primeira encomenda do projeto e também da história da Airbus. A versão escolhida pela aérea francesa foi a B2, um pouco maior que a B e que tinha capacidade para 270 passageiros. No mês de setembro de 1972, o primeiro A300 já completamente montado foi apresentado ao público pela primeira vez durante uma cerimônia e 30 dias depois aconteceu o primeiro voo.

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Foto: Airbus

Em 28 de outubro de 1972, o Airbus A300 levantou voo pela primeira vez. Um marco histórico não só para a Airbus, mas também para a aviação. Decolava aí o primeiro widebody (avião de larga fuselagem) bijato da história.

O voo teve duração de 1h23 e foi comandado pelo comandante Fischl e por Bernard Ziegler, que era o “cabeça” do voo teste.

“É uma tradição que o ‘chefe’ seja o responsável por realizar o primeiro voo teste, mas eu decidi inverter isso e transformar em um trabalho de equipe. Eu não estava querendo ser a estrela do momento”

Bernard Ziegler

Mesmo com o sucesso do voo teste, a Airbus agora tinha um desafio pela frente: encontrar mais clientes ao redor do mundo para adquirirem o seu inovador, econômico e confortável A300. Naquele momento, somente a Air France e a Lufthansa haviam encomendado a aeronave. A solução foi enviar o protótipo para um tour de demonstração pelas Américas, durante seis semanas.


Primeira entrega e novas versões

Cerca de 18 meses após a realização do primeiro voo de testes do A300, aconteceu a primeira entrega. Em maio de 1974, a Air France recebeu o seu primeiro Airbus A300, o F-BVGA, se tornando empresa lançadora do modelo. Abaixo, algumas fotos de folders de apresentação do novo widebody quando chegou na frota da Air France:

As vendas do A300 não estavam tão satisfatórias e o principal motivo era o alcance da aeronave. Para contornar o problema, foi lançado o A300B4, uma versão com maior autonomia e que começou a conquistar novos clientes, como a Korean Air, South African Airways e também a Thai Airways. Ainda dentro da versão B4, surgiram as variações B4-100, B4-200 e B4-600, essa última teve a fuselagem levemente alongada, aumentando ainda a capacidade de passageiros. Posteriormente, a Airbus criou o A300ST, conhecido como ‘Beluga’ e esse modelo é responsável por realizar o transporte de partes de outras aeronaves da Airbus entre as instalações da fabricante.

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Foto: Arquivo Flap

Na América do Norte, que era um dos principais focos da Airbus para bater de frente com as suas concorrentes, nenhuma empresa parecia mostrar interesse no inovador widebody, até que em 1978 a Eastern Airlines quebrou o tabu e encomendou 23 unidades do A300, passando a ser a primeira operadora do modelo no país. Anos mais tarde, o jato conquistou a American Airlines, que veio a operar 35 unidades, a Continental Airlines (atual United) que teve 23 deles em sua frota e também a icônica Pan American World Airways (Pan Am) que chegou a ter 13.


Airbus A300 no Brasil

O primogênito da Airbus pousou pela primeira vez no Brasil em 1973, no Rio de Janeiro e também passou por uma feira de aviação em São José dos Campos. Durante sua passagem pelo país, o A300 realizou voos de demonstração e Omar Fontana, presidente da TransBrasil, estava a bordo de um deles e mostrou interesse na aeronave. A companhia de Omar Fontana chegou a encomendar três unidades, mas o DAC não autorizou a aquisição e a TransBrasil jamais recebeu seus sonhados A300s.

A Cruzeiro (Varig) encomendou um par de A300s da versão B4 e eles chegaram no mês de junho de 1980. A companhia se tornou a primeira empresa aérea a operar o modelo no Brasil e depois de um breve período de homologação e de treinamento das tripulações o PP-CLA e PP-CLB começaram a voar regularmente nas cores da Cruzeiro. Os Airbus foram designados em rotas para São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belém, Manaus, Miami e Buenos Aires.

Fotos: WIkimedia

Na época, a Cruzeiro já havia sido adquirida pela Varig e não demorou muito para os dois A300s serem rematriculados como PP-VND e PP-VNE, recebendo também as cores da Varig. A companhia os utilizou até 1990.

No mesmo ano em que os A300 chegaram na Cruzeiro, a Vasp encomendou três unidades da versão B2, a de menor alcance. Os dois primeiros, PP-SNL e PP-SNM, chegaram em novembro de 1982 e o terceiro, PP-SNN, em 1983. A companhia os colocou em voos partindo de Congonhas para Manaus, com escala em Brasília, e também em operações para o Galeão, Salvador, Recife, Fortaleza, Belém, além de voos internacionais charters para Aruba e Orlando, que precisavam de escalas por conta da autonomia. A Vasp manteve em sua frota o trio de A300 até 2005, quando fechou as portas, porém dois deles já não estavam mais em operação.

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Foto: Wikimedia

A Master Top MTA, empresa aérea brasileira focada em voos cargueiros, chegou a ver um A300 em suas cores, mas a aeronave jamais voou na empresa.

O último Airbus A300 a operar em uma companhia aérea no Brasil foi o PR-STN na Sterna Linhas Aéreas, também focada em voos cargueiros. Fundada em 2015 com seu único Airbus, a companhia durou menos de um ano no ar, uma vez que o PR-STN sofreu um incidente no Aeroporto dos Guararapes, no Recife, em 2016, e de lá jamais decolou. A aeronave está estacionada em REC até hoje (2023). Assim terminou a trajetória de pouco sucesso do A300 aqui no Brasil.


A300 atualmente

O jato da Airbus demorou um pouco para emplacar, mas depois deslanchou. O último deles foi entregue em 2007 à FedEx, mais de 30 anos após o início da produção. Ao todo 561 Airbus A300 (somando todas as versões) foram construídos e até hoje mais de 200 continuam ativos, a maioria deles na versão cargueira. A FedEx é a maior operadora do modelo com 65 ativos e a UPS é a segunda com 52. Diversas empresas aéreas como a Emirates, Lufthansa, Condor, Alitalia, Iberia, Qantas, Monarch e muitas outras ao redor do mundo já voaram com a aeronave no passado.

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Foto: Wikimedia

Na América do Sul, a venezuelana TransCarga era a única operadora do modelo na região, com dois A300s em sua frota, no entanto retirou recentemente os bimotores de serviço. Na Alemanha, Irlanda, México, Turquia, Quirguistão, Eslovênia, Geórgia e Líbia várias companhias aéreas de carga ainda utilizam o Airbus.

Agora falando de A300 ativos que são usados em transportes de passageiros, é possível encontrá-los em um único país: no Irã. Lá, cinco operadoras aéreas ainda utilizam os ‘idosos’ da Airbus em voos de passageiros, são elas: Iran Air (5), Iran Airtour (4), Mahan Air (5), Meraj Airlines (1) e por fim Qeshm Air (4).

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Foto: Wikimedia

Hoje, existem também alguns Airbus A300 preservados e em exposição. Um deles é o F-WUAB, o protótipo que realizou o primeiro voo. Ele faz parte do acervo do Museu Aeroscopia em Toulouse.

-> Através desse link você pode ter acesso à dados e especificações mais técnicas da aeronave: AIRBUS A300

Vamos terminando por aqui a nossa jornada por esse importante avião, que lançou um império, hoje conhecido como Airbus e quebrou barreiras em uma época onde triajtos e quadrimotores dominavam os céus do planeta. Vida longa ao A300. Nos vemos em nossa próxima história.

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Uma resposta

  1. Tinha a informação de que a Cruzeiro e a Varig adquiriram, cada uma, 2 A300B4. Confirmam que foram só dois, inicialmente utilizados pela Cruzeiro e dp transferidos para a Varig?

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